quinta-feira, 1 de março de 2012

Sobre escrita

Um certo escritor uma vez disse algo como se a escrita não vier por si própria não vale a pena escrever. Claro que a minha memória não é de ser confiada, mas garanto que era essa a moral da história.
Assim sendo, o que fazer a todos os sentimentos que preciso de escrever, de tornar palavras? Da alegria à frustração passando pelo desgosto e pela euforia - devo deixar que elas me corroam até que exista apenas um pequeno pedacinho da minha pessoa, escrever então, não por me querer livrar deles mas porque tais emoções me inspiraram a fazê-lo, e esperar que o acto regenere a minha alma, pedaço a pedaço? Ser guiada pelo impulso do momento, entrar em transe e desbobinar a cassete metafórica que é a minha mente?
É um pedido ingrato mas que sem dúvida leva à honestidade e escrita brilhantes. Enquanto sou corroída, aproveito para conhecer a emoção e fundo e familiarizar-me com ela. Olho para dentro da minha cabeça e vejo-me como sou e não como aparento ser. Porque, no final de contas, quem é que se conhece a 100%? Já dizia Fernando Pessoa que os poetas tinham uma mão cheia de dores com as quais lidar, o seu número exorbitante de heterónimos à parte.
Por isso, enquanto esta dor, seja ela uma boa ou má dor (muito à semelhança da distinção entre chorar de alegria ou tristeza), durar, eu serei consumida por ela, até ao dia em que seja pequenina o suficiente para a compreender, ser inundada pela sua inspiração, escrever sobre ela e consequentemente, não livrar-me dela, mas integrá-la - guardá-la num jarrinho cheio de pontos brilhantes. Arrumá-la para mais tarde admirar.
Uma vez disseram-me que gostavam de olhar para trás, para textos que tivessem escrito no passado. Toda essa perspectiva assombrou-me em parte, nunca fiz isso com grande afinidade, geralmente apenas sentia que os meus textos eram desprovidos de valor, ou em parte não queria admitir o seu verdadeiro significado. Penso que o meu jarro é opaco, não tem pontos brilhantes mas berlindes baços e tem uma etiqueta na qual posso ler "Ainda não".

Isto foi um post sobre nada.

1 comentário:

  1. Este post foi tudo menos um post sobre nada! E é por posts como estes qe eu disse o qe disse *.*

    ResponderEliminar